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Arquivo : agosto 2015

A ferro e fogo – uma jornada no rastro dos trilhos da Vale
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Reflexões sobre uma viagem pelo sudeste do Pará no encalço das múltiplas desintegrações cometidas pela maior mineradora do mundo

Texto e fotos originalmente publicados por Verena Glass no site da Fundação Rosa Luxemburgo

Trem da Vale em trecho da ferrovia que corta o assentamento de Palmares, em Parauapebas

Trem da Vale em trecho da ferrovia que corta o assentamento de Palmares, em Parauapebas

Em uma manhã muito quente de agosto, um micro-ônibus deixou Marabá, no Pará, carregado de gente para uma viagem pelo sudeste do estado, no rastro das múltiplas desintegrações – de comunidades, de modos de vida, da sustentação, dos territórios, do trabalho, das matas e da terra – cometidas pela mineradora Vale; e também no rastro dos levantes ao longo dos trilhos que carregam para longe o minério de ferro de Carajás. A chamada Caravana Norte, organizada pela Rede Justiça nos Trilhos (fórum de organizações e movimentos sociais que atua junto a comunidades afetadas pela Vale), percorreu durante cinco dias os interiores de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás e Serra Pelada, tecendo uma espécie de fio condutor entre os vários aspectos da presença da Vale na região, que remonta à década de 1970.

Dos macroimpactos socioambientas do Projeto Grande Carajás, que inclui a mina de ferro Carajás no interior da Floresta Nacional (Flona) de mesmo nome, a hidrelétrica de Tucuruí no Pará, e a estrada de ferro que cruza o sudeste paraense e o estado do Maranhão de Cidelândia a São Luís, pouco já não foi falado. O que a Caravana proporcionou, no entanto, foi a configuração de diferentes situações em um quadro global dolorosamente representativo do reverso des-envolvimento patrocinado pela Vale, em um processo continuo de aprofundamento de danos.

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Por que o governo divulga a taxa de desmatamento da Amazônia duas vezes?
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por Stefano Wrobleski

Ministros Aldo Rebelo (MCTI) e Izabella Teixeira (MMA) anunciam o resultado final do Prodes de 2014. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Ministros Aldo Rebelo (MCTI) e Izabella Teixeira (MMA) anunciam o resultado final do Prodes de 2014. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

No último dia 14 de agosto, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentou a taxa de desmatamento oficial e consolidada da Amazônia brasileira entre agosto de 2013 e julho de 2014. No período a floresta perdeu 5.012 quilômetros quadrados – o segundo menor valor desde 1988. O resultado é 3% maior do que o número anunciado em novembro de 2014. A taxa é medida pelo Programa de Monitoramento da Amazônia por Satélites (Prodes).

De acordo com Dalton Valeriano, coordenador do Programa Amazônia do INPE, a diferença entre os números acontece porque os dados apresentados em novembro são resultado de estimativas. Com base na verificação do desmatamento de parte das imagens de satélite do bioma, o INPE avalia a provável quantidade perdida de florestas em toda a Amazônia Legal. “O 3% é um índice maravilhoso, porque o primeiro [número apresentado em 2014] é uma estimativa. O segundo que é realmente o mapa completo”, afirma.

O uso de estimativas oficiais para os dados de desmatamento na Amazônia brasileira começou em 1995, quando o Prodes demorava até um ano e nove meses para ser liberado. A partir daquele ano, a espera pelas indicações de onde e quanto a devastação da floresta havia avançado foi reduzida em um ano, o que facilitaria o direcionamento de verbas públicas no combate ao desmatamento.

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Cientista projeta o fim da Amazônia para o ano de 2260
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Thiago Medaglia

A manutenção do atual ritmo de degradação condena a maior floresta tropical do planeta a durar pouco mais de dois séculos


O mapa acima remove os pixels correspondentes à cobertura florestal ao longo do tempo a partir da média de desmatamento anual da região com base no conjunto de dados Global Forest Change (2000-2012). Os novos desmatamentos são atribuídos de acordo com a distribuição de terras cultiváveis, redes rodoviárias existentes e previstas. Outra perda florestal de 0,3% ao ano é adicionada como uma projeção para o aumento do índice de desmatamento no futuro. O cenário restringe a ocorrência de deflorestação no interior de áreas protegidas. O mapa resultante é uma projeção do ano de  2260, quando grande parte da floresta amazônica estará para sempre perdida. As projeções foram feitas pelo professor Mark Mulligan , do King’s College de Londres, a pedido do InfoAmazonia

Ao aplicar um modelo de desmatamento com base nas taxas históricas e em áreas protegidas nas quais a fiscalização é ineficiente, um pesquisador britânico chegou a uma conclusão aterradora: restam pouco mais de dois séculos de vida à Amazônia. Após esse período (245 anos, para ser exato), a clássica imagem do tapete verde formado pela copa das árvores – assim como a imensurável biodiversidade – será apenas uma memória registrada em vídeos e fotos. A floresta, que foi formada ao longo de 50 milhões de anos, vai desaparecer.

Como se não bastasse, há outra constatação preocupante e muito mais imediata. Bem antes de seu fim, a floresta tropical pode deixar de prestar os serviços ecossistêmicos que ajudam a manter a vida no planeta, tais como o sequestro e o armazenamento do carbono (atuantes na regulaçao do clima), a oferta de água, o controle da erosão e outros. Mas como o geógrafo Mark Mulligan, do King’s College de Londres, na Inglaterra, chegou a estas conclusões?

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“As áreas protegidas são a melhor ferramenta de conservação que temos em nossa caixa de ferramentas”, diz o pesquisador Mark Mulligan. A Floresta Nacional de Carajás, Pará, Brasil. Foto de Flavio Forner/XIBÉ

Mark, que trabalha na América Latina desde o início dos anos 1990, é um dos criadores de uma ferramenta de mapeamento de serviços ecossistêmicos chamada Co$ting Nature (em português, algo como “Valorando  a Natureza”). A ferramenta online agrega camadas de dados espaciais nos contextos biofísico e sócio-econômico, além de biodiversidade, serviços ecossistêmicos, pressão antrópica e futuras ameaças. “Ela executa uma espécie de contabilidade do capital natural e calcula as prioridades de conservação de cada um quilômetro de pixel em uma escala global ou regional”, explica Mark.

Serviço Ecossistêmico – Índice de armazenamento de carbono

Índice de serviços ecossistêmicos de carbono nas plantas e no solo na Amazônia Continental. Em tom alaranjado, as zonas sustentadas por solos de turfa no Peru se destacam. O Brasil é um dos grandes emissores de carbono do planeta e a maior parte de sua contribuição tem origem nas queimadas e no desmatamento ilegal ocorridos na região Norte.

A ferramenta, que é um recurso técnico valioso usado por pesquisadores em mais de 1000 organizações em 141 países, já foi aplicada em escala local e nacional em muitos lugares do mundo. Um dos exemplos é o do povoamento colombiano de Gramalote – talvez o primeiro caso no mundo em que uma cidade é inteiramente planejada do zero a partir de critérios de capital natural, tendo o suporte tecnológico de ferramentas como Co$sting Nature.

A reportagem completa, realizada pela equipe do InfoAmazonia, conta com dados e visualizações exclusivas e pode ser acompanhada no endereço: costingnature.infoamazonia.org


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