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Falta água em SP: a culpa do desmatamento

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Desmatamento acumulado em toda Amazônia. Quase 20% de toda a cobertura original já se foi. Para cientistas e ambientalistas chegou o momento do desmatamento zero

Enquanto candidatos ao governo de São Paulo trocam farpas sobre a responsabilidade da crise hídrica pela qual passa o Estado, cientistas e ativistas reunidos no III Fórum PanAmazônico afirmam que o contínuo desmatamento é a verdadeira causa por trás da falta de chuvas.

Reunidos em Lima, Peru, 34 organizações de 9 países ligados à Articulação Regional da Amazônia (ARA), lançaram o relatório O Futuro Climático da Amazôniaque compila diversos estudos científicos,  indicando a mudança do clima na América do Sul por conta da destruição da floresta tropical.

Além de afetar a capital paulista, secas prolongadas comprometaram, nos últimos anos, o fornecimento de água em Buenos Aires, Lima e Bogotá. ''Isso já não é predição ou projeção, há evidências que o clima mudou e o que tememos é que as atuais observações já indiquem um quadro de falência multipla de órgãos'' afirmou o principal autor do documento, o biogeoquímico Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Segundo ele, após a quase completa destruição da Mata Atlântica no Sudeste, a Amazônia passou a funcionar como “back up”, fornecendo chuvas ao resto do país. No entanto, a destruição de cerca de 762 mil km2 da floresta no Norte empurrou o sistema à beira do colapso.

“O paralelo que sempre faço é com um pinguço: ele sobrecarrega o corpo, fica de ressaca, mas o fígado dele trabalha e em dois dias ele está bom de novo. Enquanto você tem a floresta, o sistema climático está controlando as pressões externas. Quando você remove a floresta, você não tem mais o fígado. É um pinguço sem figado'', explicou Nobre em entrevista ao InfoAmazônia.

Bomba de água
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Imagens de satélite mostram as nuvens de umidade que se movimentam da Amazônia ao sul do continente. Foto: NASA

O pesquisador do INPE foi, em 2004, um dos autores do estudo que provou a existência da bomba biótica, ou ''a bomba de água'' na Amazônia.  As evidências demonstram que a floresta ao transpirar a água presente no solo acaba por “sugar” mais umidade do oceano atlântico. Essa umidade, empurrada por ventos alísios, choca-se com os Andes e leva chuvas ao Sudeste.

As chuvas, além de regarem a própria Amazônia, alcançam o que Nobre chama de “quadrilátero da sorte”, uma zona entre Buenos Aires e São Paulo, Cuiabá e os Andes, onde se produz grande quantidade de insumos agrícolas. Segundo os estudos compilados em ''Futuro Climático da Amazônia'' é possível afirmar que o bioma influencia 90% do regime de chuvas da América do Sul.

Desmatamento zero e reflorestamento

Representantes das ONGs presentes no Fórum, defenderam a proposta do desmatamento zero frente às conclusões de que a regulação climática provida pela Amazônia pode entrar em colapso. O ambientalista Cláudio Maretti, do WWF, afirmou que é preciso estabelecer imediatamente um limite de quanto se pode destruir da Amazônia. ''Ao menos, deveríamos ter um saldo igual a zero quanto comparamos desmatamento e reflorestamento.''

Nobre enfatizou que as atuais medições anuais de aumento ou diminuição de desmatamento não revelam a dimensão do problema. ''A dívida que temos de desmatamento acumulado é o mais importante, pois é isso que controla o clima'', disse

O pesquisador propõe que as áreas onde já não existe cobertura vegetal sejam reflorestadas. Ele lembrou que na China, onde atualmente há maior crescimento de cobertura florestal em todo o mundo, as plantações foram iniciadas como forma de combater a degradaçao do solo e a falta de água.