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Rios de Manaus passam a ser monitorados contra enchentes

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Acompanhamento em tempo real promete ação mais rápida na prevenção de desastres contra a população que vive perto dos principais igarapés da cidade

Por Vandré Fonseca

Os níveis de dois dos principais igarapés que cortam Manaus (AM) podem ser acompanhados em tempo real desde o dia 21 de novembro no site do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). As informações são coletadas por três Plataformas de Coleta de Dados Hidrológicos (PCDHidro) instaladas em parceria com a Defesa Civil do município. Os dados devem, agora, servir de base para a criação de um modelo que, no futuro, vai avisar com antecedência os moradores da região sobre riscos de cheia.

Além de um radar que monitora o nível do rio e a quantidade de chuva, as plataformas possuem câmeras que permitem acompanhar os rios em tempo real pela internet. As imagens, atualizadas a cada hora, ajudam a verificar enxurradas, erosão nas margens e alagamentos. Os dados são enviados à Brasília pelo sistema de telefonia celular. Os equipamentos contam, ainda, com painéis solares, que garantem energia para funcionamento ininterrupto.

Mapa interativo do Cemaden mostra localização das estações

Mapa interativo do Cemaden mostra localização das estações

As informações já estão disponíveis em um mapa interativo, onde estão indicados os locais onde as estações foram instaladas. Ao clicar em cima de cada ícone georreferenciado, uma página com gráficos sobre chuvas e nível do rio, além de imagens das câmeras, é aberta. É possível, ainda, fazer download dos dados na plataforma.

Atualmente, existe um sistema de previsão e alerta apenas para a cheia do Rio Negro, que sofre uma sazonal e lenta variação de nível, atingindo o nível máximo perto da metade do ano e o mínimo entre setembro e outubro. Rios menores que cortam a cidade, porém, podem transbordar devido a chuvas fortes localizadas e a cidade não contava ainda com nenhum sistema para prever ou acompanhar essas inundações.

Se o [nível do] igarapé subir, a gente avisar os moradores. As ações de resposta vão ser mais imediatas

Quando estiver em operação total, o sistema de alertas do Cemaden vai emitir mensagens por celular e email em caso de emergência. Mas, por enquanto, ainda é preciso conhecer melhor o comportamento dos igarapés que cortam Manaus. A expectativa é que os dados revelem parâmetros que indiquem com antecedência a possibilidade de o rio transbordar. “As estações são importantes para monitorar o que está acontecendo. Se o [nível do] igarapé subir, a gente avisar os moradores. As ações de resposta vão ser mais imediatas”, afirma o secretário-executivo da Defesa Civil de Manaus, Cláudio Belém.

As estações hidrológicas fazem parte de uma rede de monitoramento remoto do Cemaden espalhada por todo o país. Embora a prefeitura desejasse a instalação de dez estações, apenas três foram reservadas para a capital do Amazonas. Segundo Cláudio Belém, os locais para instalação foram indicados pela Defesa Civil e definidos pelo próprio Cemaden por indicarem a possibilidade de alagamento em áreas onde os rios transbordam com frequência durante a estação de chuvas na região, que está começando agora.

Em destaque, régua de medição do nível do rio. Ao fundo, estação de monitoramento recém-instalada (Foto: Marinho Ramos/Semcom)

O Prognóstico Climático divulgado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) indica um volume de chuvas considerado normal para Manaus e região até janeiro de 2017 – ou seja, acima de 200mm por mês. Para se ter uma ideia, são números próximos ao que historicamente chove em São Paulo em janeiro, mês mais úmido do ano na capital paulista.

Banhada pelo Rio Negro, Manaus é cortada por diversos pequenos afluentes, que se dividem em duas bacias principais: a do São Raimundo, para onde corre o igarapé do Mindu, e a do Educandos, para onde vai o Igarapé do Quarenta. Estas bacias limitam também a área central da cidade. A população ocupou o leito em muitos trechos destes rios, prejudicando o escoamento da água da chuva. Além disso, os igarapés na cidade sofrem com o assoreamento e despejo de lixo.

As chuvas significam também elevação no nível dos grandes rios, como o Negro e o Amazonas, o que aumenta a preocupação com alagamentos pontuais na cidade de Manaus. “No período de cheia, o Rio Negro barra os igarapés da cidade e eles podem transbordar”, afirma Belém. Estas cheias são pontuais e de curta duração, causando principalmente prejuízos aos moradores, com a destruição de móveis ou danos nas casas, além de riscos para a saúde.

Outra preocupação no período de chuvas em Manaus são deslizamentos de terra em encostas e margens de igarapés. Em 2011, três pessoas, entre elas duas crianças, morreram quando a encosta de um barranco veio abaixo na comunidade Santa Marta, Zona Leste da cidade. Para monitorar este risco, Manaus já conta com sete pluviômetros semiautomáticos que foram instalados em 2014 e são acompanhados por líderes comunitários. Graças a eles, já se sabe a quantidade chuva que pode provocar deslizamentos em áreas de risco na cidade de Manaus. E quando há perigo, medidas de prevenção, como a retirada de moradores, podem ser tomadas. Em Manaus, 120 mil pessoas vivem em áreas de risco, segundo um levantamento de 2012 do Serviço Geológico do Brasil.

– Acesse os dados das novas estações: