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Temperatura deve subir até 5ºC no Amazonas em 25 anos, diz estudo

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Com dias mais quentes e secos, pesquisa realizada pela Fiocruz em parceria com o Ministério do Meio Ambiente apresenta um panorama desastroso de mudanças climáticas no estado

Por Síntia Maciel

Manaus (AM) – Nesta quarta-feira (14) Manaus registrou uma temperatura média de 34ºC, conforme os termômetros espalhados pela capital amazonense. O tempo quente é comum neste mês de setembro na cidade, mas a ‘capital do mormaço’ deve se acostumar a temperaturas mais próximas dos 40ºC em 25 anos, de acordo com a pesquisa “Vulnerabilidade à Mudança do Clima”, cujos resultados foram divulgados nesta quarta-feira.

Organizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o estudo vem sendo elaborado desde 2014 e, além do Amazonas, também avalia as mudanças do clima no Maranhão, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Espírito Santo.

Júlia Menezes: "Estes dados são indicadores, […] para se precaver em casos de desastres naturais extremos". Foto: Florêncio Mesquita/Divulgação

Júlia Menezes: ''Estes dados são indicadores, […] para se precaver em casos de desastres naturais extremos''. Foto: Florêncio Mesquita/Divulgação

De acordo com a doutoranda na área de saúde coletiva e responsável pela pesquisa no Amazonas, Júlia Menezes, o estudo foi realizado em cima de dados sociodemográficos e ambientais – entre eles queimadas e desmatamento – levando em consideração algumas peculiaridades do Estado, além de realizar uma comparação entre os 62 municípios amazonenses. “Estes dados são indicadores, para que as prefeituras adotem as políticas públicas adequadas, para se precaver em casos de desastres naturais extremos, pois sabemos que há cidades que estão melhor estruturadas que outras”, observa.

Coordenador do projeto, Ulisses Confalonieri chama a atenção para o fato de que a pesquisa realizada nos seis estados apresenta dados que mostram a estrutura dos municípios e como os mesmos podem se comportar em casos de situações de vulnerabilidade. A expectativa, segundo ele, é de que a pesquisa futuramente se estenda às demais unidades da federação.

O estudo também possibilita o cálculo do Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV), em que são consideradas informações de cada município quanto à preservação ambiental, a população (saúde e condições socioeconômicas) e a ocorrência de fenômenos extremos (tempestades e doenças relacionadas ao clima, como malária e leishmaniose tegumentar.

No Amazonas, as previsões indicam que os municípios mais expostos às mudanças do clima estão nas regiões sul e nordeste do estado, próximo ao Rio Amazonas. O município mais vulnerável às mudanças é Careio da Várzea, na região metropolitana de Manaus, em virtude de desmatamentos, variações bruscas de temperatura e poluição. Manaus e Presidente Figueiredo são as cidades melhor estruturadas e adaptáveis a eventos extremos.

Temperatura
Os aumentos avaliados de temperatura são esperados para o período de 2041 a 2070, na comparação com os valores atuais. A região nordeste do Amazonas – na qual está incluída a região metropolitana de Manaus, com 13 municípios – e o leito do rio Purus (Lábrea, Pauini e Boca do Acre) poderão sofrer os maiores impactos climáticos, com temperaturas de até 5ºC a mais que o registrado atualmente. Na região sudeste do estado a projeção foi de até 4,5ºC, enquanto na região central e do Alto Rio Negro a projeção foi de até 3,5ºC.

Aumento esperado da temperatura máxima para 2041-2070. Mapas: Divulgação/Fiocruz

Aumento esperado da temperatura máxima para 2041-2070. Mapas: Divulgação/Fiocruz

Pluviosidade
As mudanças climáticas afetam diretamente o comportamento das chuvas. Os municípios da região nordeste do estado devem sofrer as maiores reduções no volume das chuvas, com uma diminuição de até 25,3% no caso de Paritins, a 370Km de Manaus. Já na região norte, as precipitações devem aumentar como um todo, subindo 9,3% em Maraã, que fica a 634Km de Manaus.

Variação do volume anual de chuvas para os municípios do Amazonas para 2041-2070

Variação do volume anual de chuvas para os municípios do Amazonas para 2041-2070

Com a pluviosidade comprometida em algumas áreas do Estado, os regimes das águas – seca e cheia – também tendem a serem afetados. Com a ocorrência destes eventos extremos, gerados a partir da alteração no volume das chuvas e da temperatura, as consequências podem ser notadas na segurança alimentar das populações destes municípios, com a perda da produção agrícola, potencial de pesca reduzido, entre outros.

“Além disso há de se considerar a questão dos Dias Consecutivos Secos, um parâmetro climático que indica a tendência de estiagens”, pontua Confalonieri. A pesquisa não indica uma tendência única para todo o estado, mas considera que as regiões sudeste e nordeste poderão apresentar períodos maiores sem chuva, com um aumento de até 36,6% na quantidade destes dias em Nhamundá, a 383Km de Manaus, em relação ao que se observa no período atual.

Variação do tempo de estiagem nos municípios do Amazonas para 2041-2070

Variação do tempo de estiagem nos municípios do Amazonas para 2041-2070

Para o representante do MMA, Pedro Christ, dependendo da região do país, com a mudança futura do clima, existem áreas com tendência ao aumento de queimadas e outras com o aumento de ocorrência de secas. “O que a gente precisa fazer é se preparar e antecipar estas questões”, afirma.