Ministro peruano quer ajuda de Brasil na Amazônia
InfoAmazonia
O ministro de Meio Ambiente do Peru, Manuel Pulgar Vidal, gostaria de replicar os planos de desenvolvimento sustentável que estão sendo criados no Brasil, em especial no Acre.
''Seria interessante ouvir mais e trazer pessoas do Acre sobre toda sua estratégia de carbono e desenvolvimento sustentável, assim como outras pessoas do Brasil para que nos contem como estão tratando de reverter esse tipo de processo [a destruição da Amazônia]'', disse em entrevista concedida à equipe de InfoAmazonia.org em Lima na última quinta, dia 08.
Embora em volume o desmatamento no Brasil seja mais alto, a taxa de crescimento no Peru é a mais elevada da região amazônica. Um dos principais problemas é a mineração ilegal de ouro em Madre de Dios. Para Vidal, a única forma de reverter o processo é apresentar alternativas econômicas para os milhares de migrantes que chegam à Amazônia em busca de riqueza.
''A estratégia do Peru de combate à mineração ilegal, é inteligente. Será difícil, acho que nos tomará anos para chegar a uma solução completa, mas está bem orientada. A ideia de contar com um plano de desenvolvimento é fundamental'', explicou.
Por esta razão, o ministro mencionou o Acre, que adotou a ''economia da floresta em pé''. Mais recentemente, o governo acriano apresentou um plano de créditos de carbono que é visto como modelo a ser seguido por outras regiões.
Às vésperas de sediar a 20a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 20, Vidal acredita que poderá dar maior relevância ao tema da amazônia nas negociações multilaterais.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista
Neste momento, existem pressões sobre a Amazônia peruana vindas da mineração ilegal de ouro. Como a política do governo aborda esta pressão?
Em toda a Amazônia, as políticas foram elaboradas a partir do mito de que é infinita, desocupada e vai nos ajudar a sair da pobreza e muitos outros mitos que hoje, felizmente, já começamos a quebrar. No passado estes mitos ajudaram a criar processos migratórios, principalmente de gente muito pobre, que saíram dos Andes e buscavam na Amazônia uma alternativa. Além disso, foram processos muito perversos, incentivados pela crença de que a floresta não é produtiva, mas que uma fazenda era a forma de dar à terra produtividade. A mesma ideia que existe no Brasil: a mata tem que se derrubar para se produzir.
Em nossos países existem zonas que expulsam aos que são pobres e as zonas que são receptoras, que muitas vezes não têm capacidade, serviços, para receber tanta gente. Isso leva a impactos como a mineração ilegal em Madre de Dios, que são regiões que tiveram, por décadas, padrões de ocupação bastante desordenados. Muita gente que chega ali não encontra alternativa econômica e que quando sabe que se pode encontrar ouro nos barrancos dos rios, o único que faz é dinamizar a mineração ilegal.
Embora possa receber críticas, a estratégia do Peru de combate à mineração ilegal, é inteligente. Será difícil, acho que nos tomará anos para chegar uma solução completa, mas está bem orientada. No caso de Madre de Dios, a ideia de contar com um plano de desenvolvimento é fundamental. Foi anunciada pelo presidente da República [Ollanta Humala]. Seria interessante ouvir mais e trazer pessoas do Acre sobre toda sua estratégia de carbono e desenvolvimento sustantável, assim como outras pessoas do Brasil para que nos contem como estão tratando de reverter esse tipo de processo.
Outras pressões vêm do incentivo à investimentos na atividade petroleira. É possível conter pressões sobre Amazônia deste setor?
No caso do petróleo, houve momentos distintos de aproveitamento do recurso. A exploração petroleira na Amazônia vem desde os anos 70. Há algumas experiências ruins principalmente porque não existia regulação. Mas também outras experiências interessantes, inclusive muito destacadas pela revista The Economist, como Camisea [projeto de exploração de gás], onde não houve a construção de quase nenhuma infraestrutura. Foi uma ilha que não gerou processos migratórios. Portanto o que creio que temos que fazer é estabelecer todos os standards. Me refiro às regras ambientais e sociais que permitam compatibilizar o aproveitamento de hidrocarbonetos com a fragilidade do ecossistema amazônico. Nós não acreditamos que se deva banir a atividade totalmente, mas tem que se fazer uma transição para um situação de maior ordenamento.
Como Peru vai se posicionar sobre o tema dos combustíveis fósseis durante a COP20?
Temos que lembrar que a COP é um espaço de negociação e onde provavelmente não vamos discutir o tema do petróleo. O que vamos discutir é a relevância que tem o ecossistema amazônico, a relevância que têm seus serviços ambientais. Ou ainda a importância de se manter a floresta em pé e porque isso significa uma alternativa às ameaças de desmatamento. Felizmente, o REDD+ [mecanismo de redução de emissões florestais] avançou muito em Varsóvia (COP 19), mas que ainda precisa avançar com todas as salvaguardas. Espero que em Lima avancemos muito com isso e que tenhamos já para Paris [onde se realizará a COP21] um REDD+ consolidado. Mas reconheçamos uma coisa: os mercados de carbono para florestas não estão ainda suficientemente maduros para designar um valor significante. Não pode estar tão baixo o valor da tonelada de carbono vinculada à floresta, porque o nível de investimento e o custo de manutenção é provavelmente mais alto do que se recebe. E quando se luta contra uma atividade como a mineração ilegal sustentada pelo preço do ouro – 1200 dólares a onça versus 5 ou 6 dólares a tonelada de carbono, se pode entender imediatamente o desafio.
Em 2010, Brasil e Peru assinaram um acordo de cooperação energética. Qual o status deste acordo?
Este acordo não prosperou no Congresso da República, que em todo o seu direito e autonomia o rejeitou. Portanto não sei que futuro pode ter. Eu pessoalmente não estou lidando com esta questão.
Entrevista completa em espanhol